sábado, novembro 04, 2006

"A perspectiva das audiências", Manuel José Damásio (texto 6 da sebenta)

Estamos habituados a ouvir a expressão “audiência” relacionada com estatísticas de audiências (por exemplo, televisivas) referentes a grupos de indivíduos que, conjuntamente, partilham uma qualquer experiência cultural (como por exemplo o visionamento de uma peça de teatro) enquanto “audiência”.
  • No entanto, “audiência” pode entender-se como um modo de aceder a informação (Mcquail, 1997), utilizado para se referir a um grupo, ou conjunto relativamente vasto de indivíduos, que, em determinado momento, partilham entre si o facto de acederem a um determinado evento mediático, uma peça de teatro ou a um discurso tecnologicamente mediatizado.
  • “Audiência” ocorre também, e numa visão mais alargada (Ross& Nightingale, 2003), à utilização da própria como forma de se referir um grupo de indivíduos que partilham entre si um quadro-base de referências sociais e culturais que permitem que se realize uma análise homogénea do seu comportamento. Os membros destes grupos partilham formas de interpretação de uma determinada mensagem de acordo com condições e interesses sociais e culturais pré-existentes.

Quer se trate de grupos quantitativamente semelhantes que interpretam uma mensagem da mesma maneira, ou de grupos mais diminutos, que, em determinado momento, se cruzam num dado local para recepcionar um discurso, o que distingue uma audiência de outras formas de aglomeração de indivíduos é a participação numa estrutura de acesso e uso de informação mediatizada.

As evoluções por que os media passaram ao longo das últimas décadas implicaram profundas transformações nas audiências, na medida em que, não são só as consequências que os discursos produzidos através das tecnologias têm sobre os indivíduos que possuem relevância para a compreensão dos públicos, mas também as formas como os sujeitos modelam as tecnologias através do seu uso (Wilson, 2004). Desta forma, expande-se o conceito de audiência, para que este passe a integrar todos aqueles que têm acesso e usam a tecnologia.

Fazer parte de uma audiência é a mesma coisa que fazer parte de um evento mediático em que os sujeitos se envolvem para se dedicarem a actividades de uso de informação. Os indivíduos são parte de uma audiência quando estão incluídos num grupo com quem partilham um quadro de referências e estruturas de poder, e quando estão em simultâneo a aceder com outros a um evento – dentro da audiência em audiência.

A análise das audiências lida sempre com a avaliação dos aspectos do evento mediático que têm influência e importância para os participantes na audiência.
Aquilo que se sabe sobre uma audiência depende:

  • Da forma como definimos o evento mediático que está na base dessa mesma audiência.
  • Da delimitação dos quais os aspectos do relacionamento desse audiência com o evento mediático que estamos interessados em analisar.

Quanto mais se explora a natureza do evento mediático enquanto fenómeno sócio-cultural, mais informação e recolhida sobre uma audiência.

Modelo de análise Sócio-Cultural

Este é um modelo de análise das audiências mais atento às circunstâncias sociais e culturais em que os indivíduos se movimentam e que aprofunda em maior detalhe os níveis e a qualidade da participação de cada grupo no evento mediático (Wilson, 2004).

Modelo de análise Quantitativa

As análises quantitativas estão exclusivamente preocupadas com produzir um mapa abstracto que permita delimitar a composição (demográfica, geográfica, psicográfica) da massa de indivíduos que constitui a audiência e identificar os seus comportamentos.
Este tipo de modelos concentra-se, normalmente, nas características mais básicas da demografia das audiências (idade, sexo, género) como factor de determinação da composição do grupo; só foca um comportamento de grupo para efeitos de medição – normalmente a duração ou horário de exposição.

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