Reflecte-se um pouco sobre as mudanças que tiveram lugar nos esquemas da recepção cultural, em contextos de interacção distintos. No seguimento do trabalho realizado em 2000, o autor foca a possibilidade de relação entre obras culturais do mesmo agente e a alteração destas, dentro de um espaço multifacetado. Exemplo disso é o Teatro Municipal Rivoli, com 3 configurações interrelacionadas, embora distintas:
- o grande auditório (concertos)
- o pequeno auditório (pequenos espectáculos)
- o café-concerto (espaço versátil).
Bernard Lahire, na obra “Teoria Prática” propõe que vejamos o publico alvo com diferentes disposições, sendo estas accionadas de acordo com os contextos de interacção ou o papel social que desempenhamos. O praticante apresenta, então, um esquema de acções plurais.
Públicos e modos de recepção: pluralidade; Categorias / tipologias
- Públicos habituais: pequena percentagem da população Portuguesa, altamente escolarizada e jovem, na qual estão patentes concepções muito interiorizadas. Estes indivíduos são os “novos intermediários culturais” e, segundo Bourdieu, têm um papel central na construção e difusão da cultura e da informação.
- Públicos irregulares: são predominantemente jovens e distinguem-se pela sua frequência moderada, pelo seu cariz moderno e profissional. Este grupo insere-se no sector médio e sofre mais seriamente os fenómenos da precariedade. Salienta-se, nos públicos irregulares, fenómenos de regressão cultural, de dois modos distintos: um familiar e outro profissional. Os públicos irregulares provam à sociedade que o nível habilitacional é importante, não sendo, contudo, essencial para a prática cultural regular.
- Públicos retraídos: movem-se na esfera das práticas domésticas/ sociabilidade local.
Apresentam baixas habilitações, encontrando expressão nos escalões jovens e idosos. Encontram-se fora da sociedade de consumo.
Questão e a culpa
Esta temática trata o alargamento e fidelização de novos públicos. Existe uma consciencialização de que é necessário atingir uma democratização cultural. A captação de um público regular será conseguida mediante a intensidade nas dimensões espontâneas dos receptores.
Apologia da fruição estética enquanto função da arte
Jauss compreende a dignificação da arte como fruição, enquanto função social da comunicação e “poiesis”(uma faculdade poética).Uma obra é acatada como aberta e incompleta, sendo o receptor convidado a mobilizar-se. A entrada em cena do receptor implica accionar competências. O receptor torna-se, assim, fundamental na criação de um conjunto de expectativas. Isto está patente na transmissão de regras de acção para a experiência estética ser identificável.
Um publico é efémero e circunstancial. Jauss crê num conjunto de disposições receptivas em conjunto com circunstância e contexto.
Fruição e corpo
Este ponto reflecte sobre o reconhecimento prático entendido como uma visão quase corporal do mundo. Este “corpo” desdobra-se em actos comunicativos sendo a emotividade expressa como forma de conhecimento e de mobilização perceptiva, o que facilita a participação e o consenso sugerido pela estética. A recepção espontânea faz com que encaremos a construção artística como um elemento da formação de públicos e familiarização de novos códigos. Assim, é possível entender todo um sistema relativamente ao nível da construção de públicos e suas práticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário