sexta-feira, outubro 27, 2006

"Les médias et leurs publics: le processus de l'interpretation", Jean-Pierre Esquenazi (texto 2 da sebenta)

A questão dos públicos é complexa e levanta dois obstáculos/ilusões:
  • Estudo do objecto mediático: resume-se ao estudo dos média. Podemos descrever de modo objectivo os produtos mediáticos e deles deduzir descrições sobre os espectadores, telespectadores e leitores.
  • O termo “público”: chamamos “espaço público” àquele onde se devolvem debates e controvérsias que fazem parte da nossa sociedade. Há um público privilegiado, que pode exprimir-se através dos média; a “ilusão” diz, então, respeito à ideia de que todos podem participar nesse espaço público. Daí a necessidade de se falar de público no plural.

O público como comunidade imaginária: De certo modo, foram os média que inventaram os “públicos”. John Hartley chega a afirmar que o público televisivo não existe, sendo uma ficção inventada por produtores de televisão e investigadores. Para o autor, o público televisivo é demasiado vasto e imprevisível para poder ser descrito ou personificado. Já Pasquiet diz que “a experiência televisiva é uma ocasião social, entre outras, que permite marcar a sua independência/individualidade”.
Público como massa: Pode chamar-se “massa” a um indivíduo que é controlado por um autómata. Elisabeth Noelle-Neumann explica o comportamento dos públicos pelo conformismo e medo. O principal motor dos indivíduos face aos média é o receio, o medo do isolamento.
Públicos identificados: Procura-se compreender como o lugar dos indivíduos no espaço social determinada ou influencia as interpretações que estes têm dos media. De acordo com Pierre Bordieu em “La distinction”, o que caracteriza o espaço social é o capital económico e o capital cultural. Deste modo, Bordieu distingue três géneros de público:

  • Os públicos dominados (pelas indústrias culturais)
  • Os públicos economicamente dominantes
  • Os públicos economicamente satisfeitos sem possuírem riqueza

Bernard Lahire propõe uma visão menos determinista do ponto de vista cultural: considerar os actores como indivíduos plurais, passíveis de várias identidades, que se comprometem através de contextos e de modo variável.
Públicos Activos: Segundo Ang, públicos activos são aqueles que se definem de acordo com a sua actividade. Não é possível pensar o “público” como uma grande máquina que concorda e assimila “mensagens” mediáticas da mesma forma. Os públicos “trabalham” uma compreensão do objecto com os diversos elementos que têm à sua disposição.

A interpretação não se constrói de uma só forma, mas através de um processo de “socialização”. Tal processo de interpretação forma-se em variadas maneiras.


O espaço de apresentação – quadro de interpretação: O objecto da interpretação não se resume a si mesmo – remete para a dimensão de uma configuração onde as características dependem da apresentação do objecto num espaço social. O mesmo produto mediático pode construir o objecto de diversas maneiras.
Interpretação e apropriação: a avaliação e a enunciação: O espaço de apresentação define-se de acordo com a interpretação: o espaço social. O espaço social é o que influencia a interpretação que se dá ao produto. Neste sentido, surgem as comunidades de interpretação: grupos de pessoas que partilham o mesmo ponto de vista, que têm o mesmo olhar sobre um produto mediático.
Interpretação e reestruturação: as gramáticas de interpretação: Uma vez conhecido o produto mediático, resta saber se este é, efectivamente, percebido e compreendido pela comunidade interpretativa.
Paráfrases: O conhecimento das gramáticas de interpretação clareia as razões pelas quais os produtos mediáticos podem tocar, comover, contrariar, chegar e até irritar os públicos. Os públicos são “interessados” quando encontram nos produtos mediáticos uma ressonância com a sua existência.

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